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Movimento Sujeitos Plurais e Autismo

Movimento Pela Defesa dos Direitos das pessoas com deficiência e com sofrimento mental

Pela valorização das Múltiplas Formas de Existência.

 

Posicionamo-nos de acordo com os Movimentos da Neurodiversidade, que concebem o autismo como resultado da variabilidade natural do genoma humano e do funcionamento neuronal. Criticamos apenas o fato de que nem todo comportamento autista nem de qualquer outro ser humano é determinado única e exclusivamente pelas vias neurais, mas também psiquicamente, socialmente, etc, havendo ainda a dimensão do sujeito, para “além destas determinações”... mostramo-nos também atentos para que a nomenclatura autista não seja definidora da identidade da pessoa por completo, de todas suas ações, pensamentos, desejos, gostos, para que tal nomenclatura não aplaque a diferença e unicidade de cada pessoa, isto é, o fato de cada pessoa ser única e incomparável.

 

Compartilhamos da visão dos ativistas da Neurodiversidade (como Ido Kedar, Amy Sequenzia, Nick Walker, dentre outros), que questiona a noção de autismo como doença. Defendemos, deste modo, que se trata de uma diferença neuronal que, na relação da pessoa com o meio social, resulta em desigualdade de oportunidades, exclusões, sofrimentos (pathos).

Ao mesmo tempo, concebemos o autismo como uma construção sócio-histórica, uma convenção circunscrita no tempo e no espaço. 

 

Do ponto de vista médico, sabemos que não há marcadores biológicos para o autismo primário, nenhum exame de sangue, líquor ou neuroimagem que possibilite o diagnóstico. Pode ser que haja em algum momento? Pode; pode ser que não seja possível? Sim.

 

Ainda que regularidades biológicas sejam encontradas – o que não ocorre no momento atual – porque defini-las como doença, se estas variantes biológicas não ameaçam a vida, mas se relacionam a exclusões e desigualdades na relação do sujeito com o corpo social?

Outro dado oriundo do modelo médico é que o autismo tem uma base genética importante. Por que, então, a prevalência vem aumentando significativamente? Certamente, o alargamento dos critérios diagnósticos do DSM tem contribuído para isto, sendo o principal fator.  Numa leitura estritamente  biológica, pode ser que as características do autismo estejam sendo selecionadas ao longo do tempo. Há várias evidências que mostram a importante participação de variantes genômicas comuns, como os SNPs. Por outro lado, variantes genômicas, tanto comuns, como os SNPs, quanto raras, quanto as CNVs, fazem parte da constituição do ser humano, estando presentes em qualquer pessoa. 

 

Por isto defendemos que tais variantes genômicas remeta à ideia de variabilidade, diferença e diversidade e que o autismo não seja uma doença, mas uma identidade, uma deficiência, no sentido positivado do termo, relacionado à opressão social.

 

Como mostram os Estudos da Deficiência, o modelo social e o Paradigma da Neurodiversidade, tal opressão se exerce nas práticas sociais, muitas delas ditas inclusivas, sobretudo, através dos DISCURSOS OPRESSORES.

 

Mencionemos alguns exemplos:

Muitos cientistas, médicos, influenciados pelos ativistas autistas, já reconhecem que a condição não corresponde a uma doença; ao mesmo tempo, afirmam que se trata de uma “desordem” neurológica, “perturbação”, etc. Estes termos já carregam consigo uma valoração negativa (dentro da lógica da inseparabilidade entre fatos e valores) e atuam como discursos opressores, próprios de DISPOSITIVOS DE PODER que segregam, marginalizam e reforçam violências contra aqueles que apresentam tais “perturbações”. O mesmo se refere à dicotomia normal/anormal aplicada ao comportamento humano.

 

Isto nos leva às práticas inclusivas que, na verdade, são excludentes e reproduzem o capacitismo, o preconceito e o estigma. A ideia do diferente como “menos, inferior, inválido (sem valor), coitado, especial, incapaz, inumano”, sempre visto em posição de inferioridade com relação àquele/a que se situa na NORMA dominante, o MÉDIO, NORMAL, que ocupa, portanto, o lugar privilegiado. 

É preciso escaparmos da lógica binária, que apenas reforça a segregação e exclusão. O normal se vale do anormal assim como o "não-deficiente/produtivo" se vale do "deficiente" para manter seus privilégios. 

 

Isto faz com que muitos profissionais da saúde ou educação, que trabalham com o autismo, afirmem defender a lógica da INCLUSÃO e na prática dizem termos que, na verdade, reforçam o ideal normalizador excludente vigente, como por exemplo, proferindo frases como: “o padrão normal da interação ainda não foi atingido”; ou “não tem nada demais este comportamento, até as crianças ‘normais’ o fazem”; ou “ah, é porque ele é ‘portador de necessidades especiais", etc.

 

Isto faz com que escolas se neguem a matricular crianças autistas, que olhares “reprovadores” sejam dirigidos nas missas, cultos, cinemas, restaurantes, diante de algum comportamento inesperado, que “saia dos padrões médios esperados de normalidade”.

 

Defendemos que todas as pessoas autistas tenham DIREITO a: uma educação verdadeiramente inclusiva; à proteção de leis específicas; que se faça valer em nosso país a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, que tem estatuto de lei, bem como todas as leis que garantam os Direitos dos Sujeitos Autistas; o acesso a intervenções clínicas que promovam o bem-estar, melhorem a qualidade de vida e facilitem o desenvolvimento das POTENCIALIDADES cognitivas, comunicativas, sócio-emocionais, psicomotoras, de modo integral, sem pressionar para que haja um enquadramento aos PADRÕES médios normativos vigentes.

 

Defendemos, ao mesmo tempo, uma ampla re-estruturação da SOCIEDADE, uma reformulação das práticas, normas e valores sociais dominantes, abolindo-se termos como normal, anormal, incapaz, coitado, especial, portador, vinculados ao ideal normalizador, que apenas segregam, marginalizam, inferiorizam, excluem e reforçam violências contra as pessoas autistas, engendrando processos de desumanização.

Somente assim poderemos construir uma sociedade mais acolhedora, mais justa e melhor para TODOS e TODAS!

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